Conheci o Henfil desde que abri o primeiro Pasquim da coleção do meu primo Paulo Dantas, bancário, sindicalista de esquerda ele tinha pilhas de jornais Movimento, Opinião, Versus e O Pasquim. Era o início do ano de 1980 e eu já era um profissional dos Quadrinhos -tinha sido assistente do desenhista Eduardo Vetillo por um ano- e prestava serviços para o estúdio Ely Barbosa. Era um dos desenhistas do gibi Os Trapalhões da Bloch Editores. Mas aquele traço rápido, caligráfico, nervoso era... perfeito, além de combativo, corrosivo, anárquico, anti-ditadura!
Tudo o que eu sonhava pra mim. Fazer humor, charge, caricatura pra classe trabalhadora, aqueles que construíam a riqueza da elite, que eram o fermento do bolo que Delfim Neto prometia dividir num dia que nunca chegava. Depois de ter uma HQ censurada na Bloch, onde desenhei na Legião dos Super-Heróis o "Homem-Lula", tendo desenhado pra tantas oposições sindicais e já com contato com o cartunista Éton, larguei tudo e me joguei no movimento onde Henfil tinha trabalhado, através da Oboré. E numa bela noite de 1982, numa reunião na sede do PT -partido que eu ajudara a fundar em 1979 junto com Henfil, Sergio Buarque de Holanda, Elis Regina, Frei Betto, Mario Pedrosa, Chico Mário, Betinho e tanta gente boa- vejo uma multidão, na saída da plenária. Empurra daqui, empurra dali, a reunião de pauta do Jornal dos Trabalhadores já ia começar, eis que dou de cara com ninguém mais, ninguém menos que... Henfil! Eu só consegui me aproximar e gritar: - Henfil! Sou o Bira, sou chargista sindical! E ele com um baita sorriso: - Tá no caminho certo, sô! O movimento precisa de mais chargistas comprometidos... e fomos empurrados cada um numa direção. E eu fiquei sem saber com o quê deveríamos estar comprometidos. Com os trabalhadores? Com o Partido? Com a Ética? Com a Luta? Com o Humor Político? Quem sabe, quem saberá?
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